As greves do pós-Guerra em Portugal
Bombas, incêndios e descarrilamentos faziam parte da agitação grevista que atormentou o Portugal de 1919 e 1920
Os anos que se seguiram ao final da Primeira Guerra Mundial ficaram marcados por uma onda de enorme agitação social que teve repercussões políticas provocando, em Portugal, uma grande instabilidade governativa. Em 1919 contabilizaram-se 362 greves, o que dá, praticamente, uma média de uma greve por dia.
A título de exemplo, recordamos a Greve Geral do operariado que teve lugar entre 16 e 18 de junho de 1919. As discórdias laborais tiveram início nas fábricas da Companhia União Fabril (CUF), onde os trabalhadores entraram em conflito com o patrão, Alfredo da Silva, e geraram um movimento de solidariedade operária, muito frequente à época. O Governo para tentar acabar com estas greves decidiu encerrar as instalações da União Operária Nacional e o jornal diário “A Batalha”.
No dia 2 do mês seguinte (julho) foi a vez de se iniciar a greve dos ferroviários que se prolongou por dois meses, com ocorrências de grande violência. Explodiram bombas na estação do Rossio, houve tiros no Entroncamento e descarrilamentos de comboios. Houve tumultos, em Lisboa. Para evitar outros atos de sabotagem, tais como descarrilamentos, o governo obrigou os grevistas a viajarem num vagão aberto à frente da locomotiva, que ficou conhecido como “vagão fantasma”.
Estas greves gerais, estes atentados contra a segurança das pessoas, sobretudo nos meios urbanos onde o número de operários era maior e também a sua organização sindical, são o reflexo crescente da real deterioração das condições sociais, que ocorreram depois da Guerra e se manifestaram em elevadas taxas de inflação, desvalorização da moeda e grande quebra no poder de compra, tudo condições favoráveis à eclosão revolucionária. Aliás, esta radicalização dos movimentos sociais é também explicada pelo impacto do Socialismo Revolucionário na sociedade europeia.
Efetivamente, a Revolução Bolchevique assustou as classes dirigentes dos países ocidentais que temiam a perda dos seus privilégios e dos seus bens. A Revolução Russa, que triunfou em Petrogrado em outubro de 1917, impulsionou por toda a Europa um fervor revolucionário que afetou, sobretudo, os operários, soldados, camponeses e alguns intelectuais. A III Internacional, com a sua propaganda, muito contribuiu para o aparecimento de partidos comunistas e de movimentos de esquerda revolucionários, na Europa e no Mundo. Mas, na verdade, nesta conjuntura do pós-Guerra, apenas saiu vitoriosa a Revolução Russa.
Na maior parte dos países europeus, mesmo naqueles de recente formação (após o desmembramento dos impérios no pós-Guerra), assistiu-se a uma radicalização dos movimentos político-sociais que levou à instauração de regimes ditatoriais na maior parte dos países europeus. Foi o caso da Itália, Espanha, Turquia, Bulgária, Grécia, Polónia, Lituânia, Jugoslávia e também Portugal, onde a Primeira República chegaria ao fim, no dia 28 de Maio de 1926, com o Golpe Militar comandado pelo General Gomes da Costa, iniciando-se a Ditadura Militar que seria continuada com a ditadura do Estado Novo.
As greves do pós-Guerra em Portugal evidenciam uma relação entre o movimento operário e as dificuldades reais que se viviam, mas há também notórios objetivos de ordem política que, em última instância, levaram ao “28 de Maio de 1926”.