NO DIA DO 2.º CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
Hoje dia 23 de agosto completam-se 200 anos sobre o nascimento de António Augusto da Costa Simões, na Mealhada. Médico, professor e político, as suas funções profissionais começaram no norte do distrito de Leiria, como clínico do Partido Médico das Cinco Vilas (Aguda, Avelar, Chão de Couce, Maçãs de D. Maria e Pousaflores) e do de Figueiró dos Vinhos.
Para além da saúde pública preocupou-se também com a expansão do ensino na nossa região. O primeiro livro sobre as Cinco Vilas é da sua autoria - Topographia Medica das Cinco Villas e Arega ou dos concelhos de Chão de Couce e de Maçãs de D. Maria em 1843, com o respectivo mappa topographico e Carta Geologica, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1860. Este seria o primeiro de 56 livros que escreveu, abordando diferentes temas.
Mais tarde, tornar-se-ia Professor da Universidade de Coimbra, seu Reitor (entre 1892 e 1898), Presidente da Câmara de Coimbra (1856-1857), Vice-Presidente da Câmara de Deputados (o Dr. Costa Simões, em virtude da sua grande influência política, foi eleito deputado em três legislaturas, por Figueiró dos Vinhos, tendo exercido, numa delas, entre 1869 e 1870, a Vice-Presidência da Câmara dos Deputados) e Par do Reino. Em todas estas funções o Doutor Costa Simões mostrou a sua inteligência e dedicação.
Em 1881, o Doutor Costa Simões criou a primeira escola de enfermagem em Portugal, a atual Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo Fonseca, de Coimbra. Foi o primeiro administrador nomeado para os Hospitais da Universidade. No Porto, foi administrador do Hospital de Santo António. Impulsionou a construção dos Paços do Município da Mealhada, participou no processo de criação do hospital concelhio e da Misericórdia, dinamizou os Banhos do Luso.
Após uma vida e carreira intensas e cheias de prestígio, não admira que tivesse tido várias distinções: em 1857, recebeu o diploma de Associado da Academia Real das Ciências de Lisboa; em 1860, recebeu o título de sócio honorário do Retiro Literário Português do Rio de Janeiro; em 1862, foi eleito sócio correspondente da Academia Real de Medicina de Turim; em 1866, passou a ser sócio correspondente da Sociedade Antropológica de Paris. Foram-lhe ainda concedidos os títulos de Comendador da Ordem da Rosa do Império do Brasil e de sócio correspondente da Sociedade Antropológica de Espanha. O Doutor Costa Simões faleceu no dia 26 de Novembro de 1903, na Casa do Murtal, na Mealhada, encontrando-se os seus restos mortais no jazigo da família, no Cemitério Municipal da Mealhada.
Após a morte do Doutor Costa Simões, na primeira sessão da Câmara de Ansião, presidida então pelo Padre Manuel Mendes Gaspar (Pároco de Chão de Couce), ficou exarada em ata uma mensagem que passamos a transcrever:
«Pelo Presidente foi dito que tendo fallecido na sua casa da Mialhada, no dia 26 de novembro ultimo, o excellentissimo senhor doutor Antonio Augusto da Costa Simões, sabio lente jubilado da faculdade de medicina da Universidade de Coimbra, antigo Reitor da Universidade e administrador dos Hospitaes da mesma cidade, julga interpretar bem o sentir dos habitantes deste concelho, propondo á Camara um voto de profundo sentimento por tão triste acontecimento, por isso que, o doutor Costa Simões desde mil oito centos quarenta e tres, em que foi nomeado medico municipal das Cinco Villas, mostrou-se sempre um dedicado e valioso amigo d'esta Região, não só publicando a sua topographia medica, mas tambem representando-a distinctamente em Cortes e promovendo-lhe o seu desenvolvimento e progresso como bem e evidentemente o demonstra a instituição do Hospital de Avellar, para o qual até conseguiu importantes donativos particulares e ultimamente dando o seu conselho e estimulo para a criação d'um Hospital n'esta Villa e suggerindo e efficasmente patrocinando a ideia da construção d'um edificio para a escola do sexo feminino em Chão de Couce. É difficil a enumeração de todos os factos da vida do illustre extincto que se relacionaram com o interesse que sempre manifestou pelo bem da lucalidade em que iniciou a sua vida publica e por isso não pode a sua memoria deixar de ser considerada como a d'um benemerito insigne. Se as atribuições desta Camara podessem ir mais longe, e ella podesse significar o seu sentir com respeito ao que o Paiz deve a um Cidadão tão notavel pela sua sciencia, pelo seu altruismo, e pelo seu amôr ao trabalho, sempre com o fim no bem publico, consideraria o seu desapparecimento, que lamentamos, como uma grande perda Nacional. Por unanimidade foi votada esta proposta, resolvendo-se mais que, em signal de sentimento, se encerra-se esta sessão e que da sua acta se désse conhecimento á familia do illustre extincto».