SE FOSSE VIVO, O HISTÓRICO SECRETÁRIO-GERAL DO PCP,
FARIA HOJE 100 ANOS
Álvaro Cunhal (1913-2005)
Hoje, 10 de novembro de 2013, completam-se cem anos sobre o nascimento de Álvaro Cunhal. Concorde-se ou não com as suas ideias políticas, a verdade é que se trata de uma referência portuguesa da luta antifascista, ao longo do século XX.
Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu em Coimbra, na freguesia da Sé Nova. A sua infância, contudo, seria vivida na Serra da Estrela, mais concretamente em Seia, terra de seu pai. Aos onze anos mudar-se-ia, com a família, para Lisboa, onde frequentaria o ensino secundário. Aos dezassete anos, entraria na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo iniciado a sua atividade política, com a filiação no Partido Comunista Português, onde se manteria ativo até ao fim da vida.
Em 1934, no início do Estado Novo salazarista, é eleito representante dos estudantes no Senado Universitário e, dois anos depois, integra o Comité Central do PCP, seguindo para Espanha onde tomaria parte nos primeiros meses da guerra civil espanhola, ao lado das forças fiéis à “Frente Popular” que tinha ganho as eleições.
Homem coerente e fiel ao seu ideário político é dono de uma vasta cultura que toca diversas áreas, para além da eminentemente política, como sejam as artes plásticas, a história, a economia ou a literatura.
Ao longo da vida, é preso várias vezes: 1937, 1940 e 1949.
Da primeira vez, Álvaro Cunhal tinha apenas 24 anos e foi preso no regresso da Guerra Civil de Espanha. Ele próprio conta o que lhe fizeram no Aljube:
«Espancaram-me durante horas inteiras até perder os sentidos e ser assim levado para um segredo isolado, estar ali prostrado algumas semanas, ver a cara ao espelho ao fim de quinze dias e não a reconhecer, o corpo todo negro. Mas eu fiquei vivo, outros morreram. Depois de me terem assim espancado longo tempo, deixaram-me cair, imobilizaram-me no solo, descalçaram-me sapatos e meias e deram-me violentas pancadas nas plantas dos pés»
A última passagem pelo cárcere durou 11 anos, 8 dos quais em total isolamento, no Forte de Peniche. Em 1960, finalmente, protagonizaria a espetacular fuga dessa Prisão, que teria grandes repercussões ao nível da vida interna do Partido, uma vez que resgatou alguns quadros destacados para as suas fileiras.
Em 1961 é eleito Secretário-geral do Partido Comunista Português (cargo que ocuparia até 1992). Depois de alguns anos a viver na clandestinidade, regressaria a Portugal após o derrube do regime fascista, por intermédio da revolução desencadeada pelos militares, no dia 25 de Abril de 1974.
Faria parte dos I, II, III e IV governos provisórios, como Ministro sem pasta, e foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e, sucessivamente, reeleito para a Assembleia da República, em todas as eleições legislativas até 1992. Nesse ano deixou o cargo de Secretário-geral do PCP, sendo eleito pelo Comité Central para Presidente do Conselho Nacional do Partido.
A sua intervenção política passou ainda por uma intensa atividade jornalística, com uma profícua colaboração, ao longo da década de 1930, em diversos jornais e revistas, de que destacamos "O Diabo"; "Sol Nascente"; "Seara Nova"; "Vértice"; em quase todas as publicações clandestinas do PCP, "Avante" e "Militante”; e ainda por uma intensa produção teórica e política de estudo, análise e reflexão sobre a realidade do país e as práticas do Partido.
A par da sua atividade política e ideológica, assumiu uma faceta literária e artística de relevo, com a elaboração das séries “desenhos da prisão”, a tradução e ilustração de obras de William Shakespeare, a produção de obras históricas de análise social, como “As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média”, a “Contribuição para o Estudo da Questão Agrária” e “Cinco notas sobre forma e conteúdo”. São ainda deste período algumas das suas obras de ficção mais conhecidas, como “Até Amanhã, Camaradas” e “Cinco Dias, Cinco Noites”, posteriormente adaptadas à televisão e ao cinema, escritas sob o pseudónimo de Manuel Tiago. Podemos acrescentar a estes títulos “A Estrela de Seis Pontas”, “A Casa de Eulália” e “Fronteiras” como obras maiores de Álvaro Cunhal.
Álvaro Cunhal, uma referência intelectual que não pode ser esquecida, morreu a 13 de Junho de 2005, em Lisboa, com 91 anos, mobilizando as suas cerimónias fúnebres muitos milhares de pessoas.