A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
No passado dia 7 de setembro completaram-se 192 anos sobre o “Grito do Ipiranga” que representou a definitiva separação do Brasil do império português, protagonizada por D. Pedro (filho de D. João VI) que se encontrava no Brasil, desde 1807. Quando chegou àquela importante parcela do império português contava apenas 9 anos de idade; foi com toda a corte, que fugira de Portugal por causa das invasões francesas. Este desfecho já era esperado, por várias razões: outras colónias americanas já se haviam separado das respetivas metrópoles europeias, muito por influência da filosofia das Luzes, da Revolução/Independência Americana e da Revolução Francesa, e o Brasil, tinha desde o ano 1815, o título de Reino.
Tudo se precipitou, porém, após o triunfo da Revolução Liberal portuguesa, no Porto, no dia 24 de agosto de 1820. Os parlamentares portugueses, recrutados maioritariamente na burguesia comercial, com interesses nos negócios tão lucrativos com aquela enorme e importantíssima colónia portuguesa, ao tempo nas mãos dos ingleses, quiseram torná-la novamente colónia, retirando-lhe o título de Reino, para poderem praticar, como antigamente, o exclusivo colonial que lhes atribuía o monopólio do comércio e lhes dava esperança de novos e fabulosos lucros. Mas os brasileiros (há muito que no Brasil havia partidários da independência) não o permitiram.
D. Pedro, o filho mais velho de D. João VI, quando a corte regressou a Portugal em 1821, ficou no Brasil como seu Regente. Os partidários da independência pressionaram-no e ele que se sentia muito identificado também com essa causa, até porque era um coração liberal, como se haveria de ver no resto da sua vida, e porque se sentia mais brasileiro que português, já que a sua personalidade se havia formado verdadeiramente no Brasil, onde havia vivido os últimos 14 anos, precisamente numa idade em que as personalidades se formam e consolidam.
Por isso, a independência do Brasil apesar de ter sido protagonizada por um príncipe português (D. Pedro), que por direito próprio seria, após a morte do pai, também rei de Portugal e de todo o seu império, não pode ser tida como uma espécie de traição à Pátria. D. Pedro tornar-se-ia, assim, o 1.º Imperador do Brasil.
Quando faleceu seu pai, D. João VI, Rei de Portugal, em março de 1826, D. Pedro ocupava o trono imperial do Brasil, e não podia, em simultâneo, ser Imperador do Brasil e Rei de Portugal, impedido como estava pela legislação portuguesa e brasileira. Mesmo assim, ainda foi dele a responsabilidade régia de Portugal, entre março e maio de 1826, que lhe valeu o título de 28.º Rei de Portugal, como D. Pedro IV.
Acabaria por abdicar do trono português na sua filha D. Maria da Glória (D. Maria II) e não no seu filho varão D. Pedro, invocando o facto daquela ter nascido antes da independência do Brasil e, portanto, face ao direito devia ser considerada, com toda a legitimidade, cidadã portuguesa.
Surgiram muitas peripécias que seria fastidioso enumerar, mas que obrigaram D. Pedro a abdicar também do trono imperial brasileiro no seu filho D. Pedro, em abril de 1831, para vir para a Europa, libertar o trono português do seu irmão D. Miguel que o havia ocupado, de forma ilegítima, após 1828. Suceder-se-ia uma guerra civil entre liberais e absolutistas, centrada sobretudo em redor do Porto, cujo desfecho acabaria por ser favorável à causa liberal de D. Pedro e de D. Maria.
Com o definitivo triunfo do liberalismo em Portugal, foram mudadas as estruturas do secular regime absolutista português, mas nem sempre de forma pacífica, basta lembrar os trágicos episódios da Maria da Fonte e da Patuleia, como resquícios de autêntica guerra civil que só terminaria com a intervenção de forças militares estrangeiras (espanholas e britânicas) que, com a requisição da Rainha, tinham entrado em Portugal ao abrigo da “Quádrupla Aliança”. A paz resultaria da assinatura da Convenção de Gramido, a 29 de junho de 1847, junto ao rio Douro, nas proximidades do Porto com o objetivo de pôr fim à insurreição armada.
Haveria ainda outros episódios de grande instabilidade política, muito por obra do Marquês de Saldanha, para com a Regeneração, em 1851, finalmente, o país entra numa onda de grande progresso e desenvolvimento, primeiro das vias de comunicação postal, telefónica, rodoviária e ferroviária, sob a tutela do dinâmico Ministro das Obras Públicas, Fontes Pereira de Melo, depois também da industrialização.
Entretanto, no Brasil, D. Pedro deixara uma Monarquia Constitucional, que não duraria sequer 70 anos, já que no parlamento brasileiro cedo se manifestariam vontades republicanas. Foi aliás, ainda em vida do 2.º imperador (D. Pedro II), a 15 de novembro de 1889, que seria proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil. D. Pedro II viria a falecer no exílio, em Paris, com 66 anos de idade.