ALJUBARROTA - A BATALHA QUE DITOU A NOSSA INDEPENDÊNCIA
No dia 14 de agosto de 1385 – completaram-se hoje 627 anos – deu-se próximo de Leiria, a batalha de Aljubarrota, que estará para sempre ligada à história da consolidação da nossa independência.
Para melhor se compreender este importante acontecimento bélico é preciso contextualizá-lo no tempo e no espaço. Vivia-se na Europa a Guerra dos Cem Anos. Portugal e Inglaterra eram aliados, enquanto Castela se juntara com a França. No reinado de D. Fernando várias guerras se travaram com Castela e várias derrotas sofremos, da última, resultou o casamento da única filha de D. Fernando (D. Beatriz) com o monarca castelhano. Quando D. Fernando morreu (1383), Portugal correu sérios riscos de ficar unido a Castela.
Não o permitiu a baixa burguesia lisboeta, o povo e uma mão cheia de membros do Clero e da Nobreza. Gerou-se um clima de guerra civil, com portugueses de um lado e do outro. No Partido de Castela (a rainha D. Beatriz estava casada com o rei de Castela, D. João I) estavam grande número de nobres e de clérigos portugueses, e no Partido Nacionalista (chefiado por D. João, Mestre de Avis), estava a generalidade do povo, a burguesia, alguns nobres e clérigos. As vilas do Reino dividiram-se no apoio a ambas as fações, conforme as preferências daqueles que nelas tinham poder e autoridade.
Entretanto, nas Cortes de Coimbra, em Abril de 1385, D. João, Mestre da Ordem Religioso-Militar de Avis, seria “eleito” rei, muito graças ao trabalho de persuasão do Dr. João das Regras e doutros homens, claramente favoráveis à causa nacionalista. Os castelhanos é que não desistiam do cumprimento das cláusulas do Tratado de Salvaterra de Magos que lhe eram favoráveis. Por isso, mais uma vez, resolveram invadir Portugal, dirigindo-se a Lisboa.
Mas o grosso do exército português que, ao tempo, se encontrava em Tomar, com a presença das duas figuras mais destacadas do seu comando: Nuno Álvares Pereira e o rei, tenta evitar o avanço dos castelhanos para a capital. Dirige-se no sentido de Leiria e, depois de várias hesitações, o combate tornou-se inevitável, nos campos de Aljubarrota.
No dia 14 de agosto de 1385, Nuno Álvares Pereira, com excelentes competências e conhecimentos militares, consolidados na terra dos nossos novos aliados, deu as melhores ordens de disposição aos seus guerreiros, que eram em muito menor número dos que o do inimigo, mas que acabariam por triunfar, mais por causa da tática utilizada do que propriamente pela valentia individual.
Antes do início do ataque, que só surgiria a meio da tarde, ainda houve tempo para assistir à missa celebrada pelo Arcebispo de Braga, D. Lourenço Vicente, quer era um dos membros do alto clero que apoiava, inequivocamente, o Mestre de Avis (D. Lourenço Vicente nasceu na Lourinhã e estudou nas universidades de Mompellier, Toulose, Paris e Bolonha, foi Cónego da Sé de Lisboa, Bispo do Porto e, entre 1374 e 1398, Arcebispo de Braga. Ainda, no reinado de D. Fernando, foi Desembargador e seu Vedor da Fazenda. Seria sagrado Arcebispo de Braga, em Avinhão, pelo último Papa aí residente, Gregório XI. Após a morte de D. Fernando defendeu convictamente as pretensões de D. João I. Nas Cortes de Coimbra foi ele que fez o discurso de aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal; foi um dos mais destacados conselheiros do novo Rei; acompanhou-o na Batalha de Aljubarrota, tendo sido ferido sem muita gravidade; e, em 1387, no casamento de D. João com D. Filipa de Lencastre, na Sé do Porto, acompanhou a nova Rainha e foi ele quem abençoou o casamento real. Resolvida definitivamente a questão política da independência de Portugal, D. Lourenço Vicente voltou à sua Catedral, onde ficou para sempre. A sua morte, segundo alguns historiadores, ocorreu em 1398, aí foi sepultado e o seu corpo conservou-se, incorruptível, até hoje).
Túmulo do Arcebispo de Braga, D. Lourenço Vicente, cujo corpo se mantém incorruptível
Mas, voltemos à batalha de Aljubarrota.
A cavalaria francesa abriu as hostilidades, mas ficou destroçada pela pronta e destemida acção dos besteiros e arqueiros ingleses, muito bem colocados, assim como pela eficácia das paliçadas (covas de lobo, previamente preparadas pelas tropas de D. Nuno e de D. João). A batalha prolongar-se-ia por algumas horas, até ao pôr-do-sol, mas o objectivo da causa portuguesa cumpriu-se, os castelhanos foram obrigados a retirarem-se do território português. Ainda haveria outras batalhas, nenhuma comparável a esta, até que a paz definitiva com Castela se assinasse a 31 de outubro de 1411.
Na manhã do dia seguinte o campo de batalha estava pejado de cadáveres, de castelhanos e portugueses. Em memória da importantíssima vitória para a causa nacional foi mandado construir o Mosteiro a Santa Maria da Vitória, na Batalha, que é hoje panteão nacional e um ponto de grande atração turística, até porque esse decisivo ato de guerra continua bem vivo na memória coletiva do povo português, de que é exemplo a celebração, de uma Missa Solene, em Coruche, integrada na Programação Religiosa das suas Festas de 2012, em Ação de Graças pela Vitória na Batalha de Aljubarrota.