Ocupação da Capela do Rato e explosivos na capital
Há 43 anos, mais concretamente, no dia 30 de Dezembro de 1972, a propósito da comemoração do Dia Mundial da Paz, um grupo de católicos progressistas organizou, na Capela do Rato, em Lisboa, uma vigília com o tema “A Paz é Possível” durante a qual seria aprovada uma Moção em que reprovava a manutenção da Guerra Colonial.
A Guerra Colonial que, ao tempo, decorria em três frentes, Angola, Guiné e Moçambique, tinha cada vez maior número de opositores na sociedade portuguesa, mormente nos sectores mais esclarecidos e mais directamente afectados pela sua continuidade – a juventude.
Já 3 anos antes – a 1 de Janeiro de 1969 – havia ocorrido algo de semelhante, quando foi ocupada a Igreja de S. Domingos, em Lisboa, igualmente por um grupo de católicos, que desde logo foram apelidados de “progressistas”.
A vigília da Capela do Rato iniciou-se no dia 29 de Dezembro de 1972 e previa um jejum de três dias, a cumprir pelos ocupantes, que assim manifestavam o seu protesto contra a continuidade da Guerra em África. A iniciativa era aberta a todos (crentes e não crentes) que se identificassem com esta luta considerada profundamente injusta.
A Capela do Rato foi escolhida para esta iniciativa porque aí o culto era dirigido pelo Padre Alberto Neto, que era conhecido pela sua luta em prol das causas sociais.
Nos dias seguintes, 30 e 31 de Dezembro, a Capela manteve-se aberta e várias centenas de pessoas participaram em assembleias mais ou menos espontâneas que debateram o problema da Guerra Colonial, condenando-a, juntamente com todos os seus malefícios de ordem económica, social e política. Nessa oportunidade, chegaram a ser afixados nas portas dados reais sobre essa nefasta Guerra, como o número de combatentes portugueses mortos, o número de feridos de uma parte e da outra.
Perante isto a repressão acabaria por se fazer sentir. No final do dia 31 de Dezembro, a polícia cercou a Capela do Rato, com cães-polícias, entrou no templo e forçou as pessoas a saírem, que, sob detenção, foram conduzidas à Esquadra do Rato. Dali, grande parte delas seguiu para instalações do Governo Civil onde passaram a “Passagem de Ano” e nas duas semanas seguintes seriam submetidos a interrogatório policial.
O assunto acabaria por chegar à opinião pública e até à Assembleia Nacional, estando na origem de alguns debates que deram para se perceber que o assunto dividia, de facto, a sociedade portuguesa.
Mas o final do ano 1972 ficou marcado, também, pela detonação de alguns explosivos, cuja responsabilidade seria atribuída à LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária). No dia 31 de Dezembro de 1972, o “Diário de Lisboa”, de 2-1-1973, na página 24, sob o título “As Bombas do Dia 31” noticia as bombas que explodiram naquele dia e que feriram 3 crianças, 2 das quais ficaram em estado grave. Segundo aquele diário da capital, houve 12 engenhos explosivos, que foram colocados em locais públicos de Lisboa e do Barreiro e explodiram cerca das 17 horas. O objectivo era o lançamento de panfletos de propaganda política. As bombas eram de pequena potência e estavam munidas de dispositivos de relógio. As bombas «explodiram na estação de Santa Apolónia (dois petardos, um no exterior, outro na entrada da gare), na estação do Cais do Sodré (duas cargas também, uma na caixa do correio fronteiro ao edifício, outra no interior), no Jardim da Parada (Campo de Ourique), R. da Beneficência, no Rego, nas Amoreiras, em Benfica, em Algés e no Barreiro (junto dos sanitários da bancada central do campo do Barreirense, depois de terminado o desafio entre este grupo e o Vitória de Setúbal), além da Estação de Sul e Sueste e de Moscavide».