D. ANTÓNIO BARROSO MORREU HÁ 99 ANOS
O antigo Bispo do Porto, D. António Barroso é o que está sentado
HOJE faz 99 anos que faleceu o antigo Bispo do Porto, D. António Barroso, que bem pode ser considerado uma das maiores vítimas da Primeira República Portuguesa. António José de Sousa Barroso nasceu em Barcelos, no dia 5 de novembro de 1854 e faleceu no Porto no dia 31 de agosto de 1918, com 64 anos.
Ao longo da sua vida, e depois de ter frequentado, já adulto, o Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim (Sertã), entre 1873 e 1879, e de ter sido ordenado sacerdote missionário, no dia 20 de setembro de 1879, abraçou a vocação missionária no Congo e em Angola, de 1880 a 1891. Assumiu maiores responsabilidades religiosas em Moçambique, onde foi Bispo Missionário, e, mais tarde, foi Bispo de Meliapor, na Índia. Mas foi sobretudo como Bispo do Porto, entre 1899 a 1918, que teve as maiores contrariedades, devido ao carácter anticlerical da política republicana.
Implantado o novo regime em Portugal, em 1910, a Igreja Católica foi vítima da perseguição dos revolucionários republicanos que não perdoaram o carácter conservador da religião católica, sem dúvida, a confissão religiosa mais arreigada na tradição popular portuguesa.
Distantes pouco mais de um século sobre estes acontecimentos revolucionários, parece-nos que os republicanos foram longe de mais na sua batalha contra a Igreja, pese embora a influência enorme que a Igreja tinha nas mentalidades, o que ia frontalmente contra os objetivos revolucionários que pretendiam mexer significativamente nas estruturas vigentes. Mas a Igreja, com D. António Barroso à cabeça, reagiu com coragem às suas investidas.
Logo na véspera de Natal de 1910 foi distribuída uma pastoral coletiva do episcopado português onde se denunciava a violência e o sectarismo anticatólico do novo regime. E no dia 23 de fevereiro de 1911, os Bispos tomaram posição, novamente em pastoral coletiva, contra o fim do juramento religioso, a expulsão das Congregações, a lei do divórcio e restantes medidas anticlericais postas em prática pela República.
Afonso Costa, que exercia o importante cargo de Ministro da Justiça, proibiu a sua leitura nas Igrejas. A resistência a estas medidas estendeu-se a todo o país, nos anos de 1911 e 1912, levando o Governo a punir os prevaricadores com prisões e desterros para fora das respetivas dioceses, como aconteceu precisamente com D. António Barroso, que foi preso e levado para Lisboa. Mantendo-se firme nas suas convicções, o Bispo do Porto foi um “mártir” nas mãos da República: foi apedrejado na Rua do Ouro, julgado em Lisboa e depois no Porto, expulso da sua diocese e exilado, tendo regressado em 1914, para voltar ao exílio em 1917. Regressou à sua diocese em dezembro de 1917, após a revolução sidonista, mas 9 meses mais tarde acabou por falecer, sendo sepultado na paróquia onde nasceu, Remelhe (Barcelos).
No dia 20 de abril de 1911 era publicada a Lei de Separação das Igrejas do Estado, que no seu o artigo 62.º declarava que «todas as catedrais, igrejas e capelas, bens imobiliários e mobiliários” eram pertença e propriedade do Estado e, portanto, foram arrolados e inventariados.
A um ano do centenário da morte de D. António Barroso, a 31 de agosto de 2018, decorre no Vaticano, a sua causa de beatificação, iniciada pela diocese do Porto e já autorizada pelo Papa Francisco, no dia 17 de junho de 2017, com publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas” de D. António José de Sousa Barroso (1854-1918).
Em março de há dois anos (2015), o atual Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, deu por concluídos os processos canónicos de inquérito a duas curas miraculosas que foram atribuídas à intercessão de Sílvia Cardoso e D. António Barroso, cujas conclusões foram entregues à Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano.
Neste momento esta Congregação, para além do caso de D. António Barroso, tem em mãos mais cinco processos de canonização da diocese do Porto: o da Irmã Maria do Divino Coração, Religiosa da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor já beatificada em 1 de novembro de 1975, pelo Papa Paulo VI e que está sepultada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Ermesinde; D. Sílvia Cardoso Ferreira da Silva, leiga, que nasceu em Paços de Ferreira e aí faleceu em 2 de novembro de 1950, já declarada Venerável em 27 de março de 2013, pelo Papa Francisco e sepultada na Igreja matriz de Paços de Ferreira; o Padre Américo Monteiro de Aguiar, sacerdote, que nasceu em Galegos, Penafiel, a 23 de outubro de 1887 e faleceu no Hospital de Santo António, Porto, a 16 de julho de 1956, fundador da Obra da Rua e que está sepultado na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, Penafiel; Irmã Maria Rita de Jesus, Religiosa da Congregação das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, que nasceu no Porto a 23 de janeiro de 1885 e aí faleceu em 1965, estando sepultada no Cemitério da Ordem da Lapa; e Ana de Jesus Maria José de Magalhães, leiga, que nasceu em Arrifana, Santa Maria da Feira, em agosto de 1811 e aí faleceu em 25 de março de 1875, estando sepultada no adro da Igreja de Arrifana.