No que toca à história, ou melhor dito, à “lenda” consta que o bispo Valentim não acatou as ordens do imperador Cláudio II, no século III d. C., que tinha proibido o casamento no período das guerras por acreditar que os legionários solteiros eram melhores combatentes que os casados.
Pois S. Valentim, além de continuar a fazer casamentos, ele próprio se terá casado secretamente, sem qualquer respeito pela determinação do imperador. Tendo sido descoberto foi preso e condenado à morte. Durante o período em que se encontrava na prisão, muitas pessoas jovens lhe ofereciam flores acompanhadas de bilhetes onde afirmavam acreditar no amor. Ainda enquanto estava preso, aguardando a execução da pena de morte, Valentim ter-se-á apaixonado pela filha invisual do carcereiro e, sem qualquer outra explicação, senão a de um milagre, fez com que ela tornasse a ver. Antes de ser executado, Valentim deixou uma mensagem de despedida para a sua apaixonada, na qual se assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”.
E dessa história terá nascido a ligação de S. Valentim ao romantismo e ao amor!
Infelizmente a realidade quotidiana é menos romântica…
Infelizmente os jornais continuam, quase todos os dias, cheios de notícias que dão conta de violência entre homens e mulheres, pelos mais diversos motivos: passionais, ciúmes, interesses económicos, disputas familiares. As mulheres, por regra, são as vítimas!
No dia em que se assinala a violência exercida contra as mulheres, os meios de comunicação, com toda a sua força persuasiva na opinião pública, vêm recordar os números desse drama, que, infelizmente, ocorre em todas as latitudes e longitudes deste planeta.
Do mesmo modo, as instituições que mais se empenham no combate a este tipo de comportamento criminoso continuam acusar um aumento de todo o tipo de violência contra as mulheres. Se os locais destes crimes, não têm identificação prévia, porque podem suceder em todo o lado, também não podemos dizer que os agressores e as suas vítimas sejam, apenas de um estrato social, não há gente de todos os estatutos sociais, num papel e noutro.
Há 3 anos atrás, em Portugal, o Ministério da Administração Interna divulgou um número assustador, para a dimensão populacional do nosso país: mais de 20 mil crimes relacionados com violência doméstica, o que dá uma média diária superior a 50 destes crimes. Outro dado divulgado pelas autoridades policiais portuguesas, é que os autores destas violências são maioritariamente do sexo masculino, têm 25 anos ou mais anos e, normalmente, são companheiros, namorados, ex-namorados, cônjuges, ex-cônjuges e/ou ex-companheiros das vítimas.
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima tem uma rede nacional de 15 Gabinetes de Apoio à Vítima e duas Casas de Abrigo, onde acolhem e apoiam todo o tipo de vítimas que se enquadram neste âmbito de violência, como sejam: maus-tratos físicos e psíquicos; ameaças; coação; difamação e injúrias; violação e outros crimes sexuais; subtracção de menores; violação da obrigação de alimentos; homicídio entre outros.
Dez anos, mais tarde, a 25 de Novembro de 1991, seria iniciada uma campanha a nível mundial pelos Direitos Humanos das Mulheres, coordenado pelo Centro de Liderança Global da Mulher, que propôs 16 dias de luta contra a Violência sobre as Mulheres, que decorreram entre 25 de Novembro desse ano e 10 de Dezembro, que era precisamente a data de aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948.
Finalmente, em Março de 1999, o 25 de Novembro seria reconhecido pela Organização das Nações Unidas como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.
Nesse dia, o Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu a seguinte mensagem, que continua plena de sentido:
«A violência contra as mulheres causa enorme sofrimento, deixa marcas nas famílias, afectando as várias gerações, e empobrece as comunidades. Impede que as mulheres realizem as suas potencialidades, limita o crescimento económico e compromete o desenvolvimento. No que se refere à violência contra as mulheres, não há sociedades civilizadas. (...) A luta contra este flagelo exige que abandonemos uma maneira de pensar que é ainda demasiado comum e está demasiado enraizada e adoptemos outra atitude. Que demonstremos, de uma vez por todas que, no que toca à violência contra as mulheres, não há razões para ser tolerante nem justificações toleráveis. (...) Devemos trabalhar juntos para criar um ambiente em que a violência contra as mulheres não seja tolerada».
Somos, naturalmente, contra todo o tipo de violência, física e mental, seja de homens sobre mulheres, de mulheres sobre homens, de polícias sobre os cidadãos, dos pais sobre os filhos e vice-versa e de todos os outros tipos. O Homem como ser racional, deve ser capaz de preferir, em todas as circunstâncias e perante todo o tipo de vicissitudes, a palavra, os valores, o bom senso à violência.
Deixo esta reflexão no Dia dos Namorados de 2010!